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React 18: Entendendo a Arquitetura Fiber e as Atualizações Concorrentes

React 18: Entendendo a Arquitetura Fiber e as Atualizações Concorrentes

O React 18 trouxe diversas melhorias internas focadas em desempenho e responsividade. Para lidar com aplicações cada vez mais complexas, o React reescreveu seu reconciliador introduzindo o React Fiber, uma arquitetura que permite divisão de trabalho em tarefas menores e agendamento inteligente. Com o Fiber, o React 18 pode interromper, retomar ou adiar renderizações conforme necessário, tornando a interface mais ágil. Combinado ao novo Modo Concorrente (“Concurrent Mode”) e recursos como transições assíncronas (useTransition), essas mudanças permitem que aplicações permaneçam fluidas mesmo sob carga.

Neste artigo, você vai aprender:

  • O que é o React Fiber: um novo reconciliador interno que altera como o React “pinta” a interface.
  • Priorização de tarefas: como o React diferenciar tarefas urgentes (ex.: digitação do usuário) de tarefas não urgentes (ex.: renderizar uma lista grande) usando agendamento.
  • Modo Concorrente e recursos do React 18: como ativar e usar os novos recursos (batching automático, startTransition, useDeferredValue, Suspense) para controle fino de atualizações.
  • Dicas práticas de performance: técnicas adicionais (como React.memo, code-splitting, Suspense, entre outras) que aproveitam a base do Fiber para manter a UI rápida.

Vamos explorar cada um desses tópicos em detalhes, com analogias e exemplos para facilitar a compreensão. 🚀

Arquitetura Interna: O React Fiber

O React Fiber é o motor interno do React a partir da versão 16, uma reescrita do algoritmo de reconciliação (comparação entre Virtual DOM e a árvore atual). Em vez de reconciliar toda a árvore de componentes de uma vez (modelo “pilha síncrona”, usado até o React 15), o Fiber quebra o trabalho de renderização em pedaços menores. Isso permite que o React pause o processamento, atenda tarefas mais urgentes e depois retome de onde parou, evitando travamentos na interface.

Uma analogia útil é pintar uma casa: imagine que, antes do React Fiber, a cada atualização você precisava pintar todos os cômodos de uma vez, sem poder parar. A pintura só terminava quando cada parede estivesse pronta. Se surgisse uma chamada urgente no meio do trabalho, você não poderia pausar a pintura até terminar. Com o Fiber, o React “pinta cômodo por cômodo”: ele divide o serviço em partes, faz uma pausa para atender algo urgente (como uma entrada do usuário) e depois retoma de onde parou. Isso evita que a UI “congele” durante trabalhos pesados.

Pontos-chave do React Fiber:

  • Renderização em fatias: cada componente torna-se um nó (fiber) em uma árvore encadeada. O React pode iterar sobre esses nós pouco a pouco, em vez de tudo de uma vez.
  • Pausável e retomável: se chegar uma atualização urgente (ex.: o usuário digitou algo), o React interrompe a renderização em andamento, trata o novo evento e só depois volta ao trabalho anterior.
  • Cancelamento e reutilização: se uma tarefa demorar muito ou ficar obsoleta (por exemplo, um componente sai de tela antes de terminar uma renderização), o React pode abandonar esse trabalho ou reaproveitar resultados já calculados.
  • Render e Commit: a reconciliação do Fiber ocorre em duas fases principais. Na fase de render (renderização), o React calcula as mudanças em memória, sem alterar o DOM. Essa fase pode ser interrompida. Na fase de commit, o React aplica as mudanças ao DOM de forma síncrona e rápida.

Por exemplo, componentes pesados que demoram podem ser renderizados em background, enquanto atualizações leves (como destacar um campo de texto ativo) são processadas imediatamente. Essa estratégia garante que a interface continue responsiva ao usuário enquanto tarefas custosas são agendadas em segundo plano.

Priorização de Tarefas e Agendamento

Nem todas as atualizações de estado têm a mesma importância ou urgência. O React Fiber introduz um sistema de prioridades para organizar as tarefas e decidir qual atualizar primeiro. De modo geral, podemos classificar as atualizações em:

  • Urgentes: que precisam refletir imediatamente na UI. Exemplos típicos são eventos do usuário (digitar em um campo, mover o mouse, clicar em botões) e animações. O usuário espera resposta instantânea, sem percepções de atraso.
  • Não urgentes: que podem esperar alguns milissegundos enquanto coisas mais importantes são feitas. Exemplos incluem re-renderizar uma lista longa após uma filtragem, recalcular gráficos complexos ou carregar dados complementares. A interface básica permanece estável durante milissegundos adicionais, sem que o usuário note.

O React prioriza atualizações urgentes primeiro. Quando o usuário digita ou clica, o React agenda essa tarefa de nível alto e, se estava no meio de outro processamento, ele interrompe a tarefa em curso. Depois que o trabalho urgente termina, o React retoma as atualizações pendentes de prioridade mais baixa. Desse modo, a IU não “trava” esperando tarefas demoradas.

Para gerenciar isso, o Fiber usa um sistema interno chamado ”lanes” (faixas). Cada atualização de estado recebe uma faixa de prioridade. Sem entrar em detalhes do código, pense que o React mantém várias filas de tarefas organizadas por urgência. Assim, ele pode começar a re-renderizar uma lista longa (tarefa de fundo) e, ao mesmo tempo, ter recursos reservados para entradas do usuário. Em termos práticos, é como ter um pod de executores que atendem primeiro chamados inadiáveis e delegam tarefas menos urgentes para depois. No fim, o usuário percebe uma experiência mais fluida e livre de pausas perceptíveis, mesmo em páginas complexas.

Resumo de priorização e agendamento:

  • Tarefas urgentes (input, cliques, animações) pré-ocupam o React.
  • Tarefas de baixa prioridade (listas longas, cálculos intensivos, carregamentos) podem esperar alguns instantes.
  • O Fiber pausa tarefas em andamento para processar o urgente, e depois retoma.
  • A estrutura de lanes garante que diferentes atualizações não se misturem indevidamente, e que as mais importantes sejam atendidas primeiro.

Modo Concorrente e Recursos do React 18

O React 18 consolidou várias funcionalidades concorrentes tirando proveito do Fiber. Diferente de versões antigas onde o Concurrent Mode era experimental, no React 18 ele está pronto para uso (ao usar a nova raiz com createRoot). Isso significa que, quando ativamos a aplicação com o novo root do React, toda a renderização passa a ser assíncrona e interropível, sem bloqueios. Veja algumas das principais novidades a partir do React 18:

  • Automatic Batching (Agrupamento Automático): Por padrão, o React agrupa várias atualizações de estado que ocorrem no mesmo ciclo de evento em uma única renderização. Antes do React 18, apenas atualizações dentro de handlers síncronos eram agrupadas. Agora, até Callback de timeout, eventos async, Promises, entre outros, são batched. Ou seja, se você chamar setState duas vezes dentro de um setTimeout, o React 18 fará apenas uma re-renderização no final do ciclo. Isso reduz renderizações desnecessárias e melhora a performance.

    useEffect(() => { setTimeout(() => { setCount(c => c + 1); setName("Novo nome"); // No React 18, essas duas chamadas serão agrupadas em UMA só renderização. }, 1000); }, []);
  • Transições Assíncronas (useTransition): O React introduziu hooks para marcar certas atualizações como de baixa prioridade. Com useTransition, podemos sinalizar ao React: “esta atualização pode esperar, se algo mais urgente aparecer”. O hook retorna [isPending, startTransition]. Ao envolver uma atualização dentro de startTransition, o React tratará essa mudança como não urgente. Enquanto essa transição está pendente, isPending fica true e podemos exibir um spinner ou fallback. Por exemplo:

    import React, { useState, useTransition } from 'react'; function FilteredList({ items }) { const [filter, setFilter] = useState(''); const [filteredItems, setFilteredItems] = useState(items); const [isPending, startTransition] = useTransition(); function handleFilterChange(e) { const value = e.target.value; setFilter(value); // responde imediatamente à digitação do usuário // Marca a atualização da lista como não urgente startTransition(() => { const novosItens = items.filter(item => item.toLowerCase().includes(value.toLowerCase()) ); setFilteredItems(novosItens); }); } return ( <div> <input value={filter} onChange={handleFilterChange} placeholder="Filtrar..." /> {isPending && <p>Carregando resultados...</p>} <ul> {filteredItems.map(item => ( <li key={item}>{item}</li> ))} </ul> </div> ); }

    Como funciona: ao digitar no input, o estado filter (texto) é atualizado imediatamente, garantindo uma resposta rápida ao usuário. Em seguida, a filtragem pesada da lista é feita dentro de startTransition, permitindo que essa tarefa seja pausável. O React pode interromper essa filtragem se, por exemplo, o usuário começar a digitar algo novo. Enquanto isso, isPending é true e exibimos um indicador de carregamento. Com essa abordagem, a interface mantém-se interativa mesmo em operações custosas.

  • Suspense para Dados e Componentes: Originalmente criado para code splitting, o <Suspense> no React 18 foi ampliado para dados e outros recursos atrasados. Podemos usar <Suspense> envolvendo componentes que carregam coisas demoradas (trazendo dados de uma API, carregando um módulo pesado etc.). Enquanto o componente filho “resolve” o que precisar (por exemplo, uma Promise de dados), o React exibe o fallback fornecido e pausa a renderização do conteúdo pesado. Graças ao Fiber, essa espera não bloqueia o restante da UI.

    import React, { Suspense } from 'react'; const HeavyComponent = React.lazy(() => import('./HeavyComponent')); function App() { return ( <Suspense fallback={<div>Carregando módulo pesado...</div>}> <HeavyComponent /> </Suspense> ); }

    Nesse exemplo, HeavyComponent só será exibido quando for carregado (por exemplo, código separado). O <Suspense> mostra “Carregando módulo pesado...” enquanto isso. Internamente, o React realiza essa carga em background: outros componentes da página não são congelados. Quando o módulo chega, o Fiber continua a renderização daquele componente. Em termos de experiência, é como se disséssemos: “pausa essa parte da interface até tudo estar pronto”.

  • useDeferredValue: Esse hook recebe um valor e retorna uma versão deferida (adiada) desse valor quando existem muitos renders. Por exemplo, em buscas instantâneas, podemos ligar o texto digitado a um estado e usar useDeferredValue para fazer a consulta aos poucos. À medida que o usuário digita, usamos o valor antigo (sem parar) e só depois aplicamos o novo valor. Isso impede que a cada letra o aplicativo faça um render completo de toda lista. A sintaxe básica é:

    const deferredFilter = useDeferredValue(filter); // usa-se deferredFilter em vez de filter em operações pesadas

    Dessa forma, a UI responde imediatamente à digitação (filter muda), mas as partes dependentes (ex.: listar itens filtrados) usam deferredFilter para computações, ganhando fôlego.

Para aproveitar todos esses recursos, certifique-se de criar a raiz da aplicação do React 18 usando a nova API createRoot (importada de 'react-dom/client'), que habilita o modo concorrente por padrão. Exemplo:

import { createRoot } from 'react-dom/client'; import App from './App'; const container = document.getElementById('root'); createRoot(container).render(<App />);

Se você ainda usar o ReactDOM.render antigo, continuará no modo clássico (renderizações síncronas sem as melhorias do Fiber).

Em resumo, o React 18 formalizou a concorrência: ele não apenas mistura tudo em paralelo (afinal, continua rodando em um único thread JavaScript), mas faz isso de modo cooperativo e não-bloqueante. Fica a critério do desenvolvedor escolher quais atualizações tratar de forma concorrente (através das novas APIs) e quais manter síncronas. O Fiber está lá para otimizar nos bastidores, deixando sua aplicação cada vez mais fluida.

Técnicas de Otimização e Boas Práticas

Além das novas APIs concorrentes, existem técnicas clássicas e boas práticas que complementam o Fiber para melhorar a performance:

  • Memoização de Componentes (React.memo): Evite re-renderizar componentes que não precisam mudar. A função React.memo(MyComponent) impede que um componente funcional seja renderizado se suas props não mudaram. Por exemplo, se você tem um componente caro (que demora a processar) e ele só depende de uma prop value, envolver em React.memo garante que ele só renderize de novo se value mudar.

    const ExpensiveItem = React.memo(function ExpensiveItem({ value }) { // Simula processamento pesado const start = performance.now(); while (performance.now() - start < 20) { // loop ocupando 20ms } return <div>{value}</div>; }); function App() { const [count, setCount] = useState(0); const [text, setText] = useState(''); return ( <div> <input value={text} onChange={e => setText(e.target.value)} placeholder="Digite algo..." /> <button onClick={() => setCount(count + 1)}> Contagem: {count} </button> <ExpensiveItem value={text} /> </div> ); }

    Nesse exemplo, ao clicar no botão de contagem, apenas count muda. O componente ExpensiveItem só renderiza de novo se text mudar. Sem React.memo, cada click (ou qualquer mudança de estado no pai) forçaria ExpensiveItem a renderizar. Com React.memo, ele ignora renderizações desnecessárias, liberando recursos do Fiber para outras tarefas.

  • Memoização de Funções e Valores (useMemo e useCallback): Use useMemo para memorizar resultados de cálculos caros e useCallback para memorizar funções que são passadas como props, evitando re-criações a cada render. Assim, componentes filhos que dependem dessas funções ou valores não precisam re-renderizar sem necessidade.

    function BigList({ items }) { // Ordena items somente quando 'items' muda const sortedItems = useMemo(() => { console.log('Ordenando itens...'); return [...items].sort(); }, [items]); return ( <ul> {sortedItems.map(item => <li key={item}>{item}</li>)} </ul> ); }
  • Code-Splitting e React.lazy com Suspense: Divida seu código em “chunks” carregados sob demanda. Use React.lazy para importações dinâmicas e <Suspense> para fornecer um fallback enquanto o módulo carrega. Isso reduz o tempo de carregamento inicial. Como vimos, o Fiber permite que esse carregamento ocorra sem bloquear a UI:

    import React, { Suspense } from 'react'; const HeavyChart = React.lazy(() => import('./HeavyChart')); function Dashboard() { return ( <Suspense fallback={<div>Carregando gráfico...</div>}> <HeavyChart /> </Suspense> ); }
  • Virtualização de Listas: Ao exibir listas muito longas, considere usar bibliotecas como react-window ou react-virtualized. Elas renderizam apenas os itens visíveis, reduzindo drasticamente o custo de renderização. O Fiber permite pausar e retomar, mas virtualização evita trabalho desnecessário em primeiro lugar.

  • Profiling e Análise de Performance: Utilize o Profiler do React Developer Tools para identificar componentes que demoram a renderizar ou atualizam com muita frequência. Ajuste-os com React.memo, divida em componentes menores ou otimize lógica interna. O conhecimento das prioridades do Fiber ajuda a analisar se alguma atualização está sendo não-urgente quando deveria, ou vice-versa.

  • Separação de Responsabilidades: Mantenha lógica de dados e lógica de interface separadas. Por exemplo, carregue dados assíncronamente fora do ciclo de render e só então exiba nos componentes (Suspense facilita isso). Componentes “puros” sem efeitos colaterais são mais fáceis de agendar e pausar, pois não dependem de timing.

Em resumo, o React Fiber fornece a base para um agendamento inteligente, mas as técnicas do desenvolvedor fazem o “design” do que é urgente ou não. Ao combinar memoização, code splitting e hooks de concorrência, garantimos uma IU rápida e sem travamentos.

Conclusão

A árvore Fiber no React 18 revolucionou a forma como as atualizações são tratadas, trazendo agendamento por prioridade e possibilitando atualizações concorrentes. Com o Fiber, o React pode interromper tarefas custosas para atender eventos de usuário, o que melhora muito a responsividade das aplicações. O React 18 transforma essas possibilidades em realidade através de novos recursos: o Concurrent Mode oficial (pelo createRoot), o Automatic Batching, as transições com useTransition/startTransition, o useDeferredValue e o poder do <Suspense> estendido. Esses recursos dão ao desenvolvedor ferramentas para indicar o que deve acontecer imediatamente e o que pode esperar, deixando a aplicação mais fluida.

Além disso, práticas de otimização clássicas continuam válidas e ganham força no contexto do Fiber: usar React.memo e useMemo evita re-renderizações desnecessárias, enquanto code-splitting com React.lazy e <Suspense> acelera o carregamento inicial. Em conjunto, essas técnicas liberam o Fiber para focar no que realmente é importante em cada momento.

Próximos passos & Perspectivas: O React 18 e a nova Fundação React abrem caminho para ainda mais inovações – pense em Server Components, streaming SSR e atualizações paralelas. Mas, no front-end tradicional, o cenário é este: entenda o Fiber por baixo, experimente as novidades concorrentes em seus componentes e meça os ganhos de performance. Esse conhecimento garantirá que suas aplicações sejam escaláveis e agradáveis ao usuário, mesmo em cenários complexos. Em suma, com Fiber e atualizações concorrentes, o React 18 leva a experiência do usuário a um novo patamar de fluidez e capacidade de resposta.

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